Publicado dia 24 de janeiro de 2011 em: http://femehnacional.wordpress.com/

Durante a ditadura militar, vários partidos políticos e organizações de esquerda optaram pela luta armada. Nos conflitos rurais, o mais importante foi a Guerrilha do Araguaia. Ocorrida no início da década de 1970, a guerrilha teve este nome por ter sido travada em locais próximos ao rio Araguaia, na divisa entre Pará, Maranhão e, hoje, o estado do Tocantins.
Como resultado do conflito, foram registrados 76 mortos, dos quais 59 militantes do Partido Comunista Brasileiro e 17 recrutados na região. Também por isso, acabou se transformando no principal confronto direto entre o regime militar e a esquerda armada.
Assim, a edição de janeiro do informativo do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), “Destaque Amazônia”, é especial, e trata de estudos desenvolvidos por pesquisadores e bolsistas da instituição na região do Araguaia. E é nesse local onde o Grupo de Trabalho do Tocantins (GTT), criado no âmbito do Ministério da Defesa, desenvolve diversos estudos sobre esse recente acontecimento na história da região amazônica.
O grupo é responsável pela construção do acervo da memória social da Guerrilha do Araguaia integrado ao projeto de identificação dos restos mortais dos guerrilheiros. O trabalho conta com a participação de dois pesquisadores do Museu Goeldi: Rodrigo Peixoto e Ivete Nascimento. Reunir, reproduzir, catalogar e organizar a vasta documentação sobre a guerrilha a fim de disponibilizá-la ao público é a meta do grupo.
Para isso, o GTT registra, em áudio e vídeo, depoimentos sobre a guerrilha para construir um arquivo de história oral temático, e é com base nessas gravações em vídeo que Adriana Coimbra, bolsista de iniciação cientifica do Museu Goeldi, realiza a pesquisa “Memórias do Araguaia: relatos de uma guerrilha”.
Em busca da verdade
Em 1982, instaurou-se processo contra a União Federal do Brasil, que ordenava que fossem achados e identificados os restos mortais de 70 pessoas, entre os quais membros do PC do B e camponeses presos, torturados e desaparecidos. De lá pra cá, houve quebra de sigilo das informações militares, a criação do Grupo de Trabalho do Tocantins, 19 expedições ao local onde os combates ocorreram, identificação de duas pessoas e a condenação do Brasil frente à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Mas o resgate da história da Guerrilha do Araguaia ainda está longe de ser concluída. Presente na vida e na memória das pessoas que sobreviveram, a Guerrilha tem parte de sua história guardada pelos que fazem parte da Associação dos Torturados, no Tocantins.
Memória Social
Em tantos anos, as feridas que a Guerrilha do Araguaia deixou nas pessoas e no local ainda não foram cicatrizadas. A paisagem resultante no local é de destruição e desolação, os sentimentos das pessoas são de insegurança e impunidade e as perguntas ainda continuam sem respostas.
“Os que viveram os horrores daqueles dias de incerteza e de restrição das liberdades capitaneados pela dureza dos chamados ‘anos de chumbo’, trazem na memória lembranças que talvez prefeririam esquecer. Nesse sentido, o desafio é mostrar que a memória não é apenas um instrumento ideológico, mitológico e não confiável. Deve ser, sobretudo, um instrumento de luta, como meio de acesso à igualdade social, garantindo o direito à conquista das identidades”, afirma Adriana Coimbra.
O estudo, que ganhou matéria na mais recente edição do jornal do Museu Paraense Emílio Goeldi, é orientado pelo pesquisador Rodrigo Peixoto – também do Goeldi – e analisa as memórias existentes sobre a Guerrilha do Araguaia na região conhecida como Bico de Papagaio, no sul e sudeste do Pará, no período entre 1967 e 1975.
Adriana Coimbra ressalta que diversas são as visões criadas acerca da guerrilha e de seus participantes, tanto do lado do Estado quanto da sociedade civil. Além disso, a proximidade com os dias de hoje faz a guerrilha muito presente na memória e no cotidiano da população local – mesmo que já se tenham passado 35 anos da dizimação do projeto guerrilheiro.
Religião e resistência
Outro aspecto abordado no “Destaque Amazônia” é a questão religiosa. Ana Andrade, bolsista de iniciação científica desenvolveu o trabalho “Razões práticas da Teologia da Libertação no Xingu e no sul sudeste do Pará”. Orientada por Rodrigo Peixoto, ela procura identificar a atuação e a percepção dos agentes sociais ligados à ala progressista da Igreja Católica envolvida com as causas dos movimentos sociais e lutas pela terra no Xingu, Sul e Sudeste do Estado do Pará.
Os padres atuantes no sul do Pará, ditos revolucionários e ligados à Teologia da Libertação, promoviam encontros em igrejas. Nos seus sermões falavam a respeito do que estava acontecendo na sociedade. “Os militares não gostaram muito disso e, logo no início, a Igreja, que apoiava a revolução, teve que romper com o Estado e adotar claramente o lado dos reprimidos”, lembra Ana.
Confira a versão online do “Destaque Amazônia” de janeiro no link:http://www.museu-goeldi.br/download/pdf/destaque/2011/destaque_amazonia_n48_jan11.pdf
(Lucila Vilar e Vanessa Brasil, da Agência Goeldi)
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